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São diversas pessoas que se agarram à fé e à solidariedade para manter os sonhos de pé; número de desabrigados e desalojados aumentou 66% no Estado em um período de apenas 24 horas.
Crislaine da Silva Valadares, 21, moradora de Honório Bicalho, distrito de Nova Lima muito afetado pelas chuvas do último fim de semana até tenta, que trabalha como faxineira, mas não consegue segurar o choro ao pensar que ela perdeu tudo o que tinha em casa por conta das chuvas do último fim de semana. A residência dela está inacessível. Quando a água começou a subir, a faxineira explica que pensava muito nos filhos pequenos – Ayla de 1 ano e 7 meses e João Miguel de 4 anos.
“Dói. Dói muito. Meu menino de 4 anos disse: ‘Mãe, o rio vai levar o papai. O rio vai levar até a nossa cachorra’. Ele não quer ficar mais lá. Ele tem medo. Tem hora que ele acorda chorando achando que a água vai levar a gente”, desabafa.
A senhora Crislaine e a família estão entre os 34 desabrigados que encontraram um pouco de conforto e amparo no abrigo temporário montado pela Prefeitura de Nova Lima na Escola Municipal Ana do Nascimento Souza. Outras dez pessoas estão em casas de passagem da cidade. Nos cálculo da prefeitura, 4.000 pessoas ficaram desalojadas por conta das chuvas nos distritos de Honório Bicalho e Santa Rita. No Estado, segundo balanço da Defesa Civil da última quarta-feira (12), 28.602 pessoas estão desabrigadas ou desalojadas. O número cresceu 66% em 24 horas, já que na última terça-feira (11) eram 17.237.
Umas das salas de aula do colégio da cidade virou o quarto da família de Crislaine. A quadra de esportes, um espaço de convivência com outras pessoas na mesma situação. O refeitório, o local para receber café, almoço e janta que só são possíveis graças ao bom coração de quem faz doações. Na consciência, Crislaine só tem uma certeza – apesar de não ter para onde ir, voltar para casa não é uma opção, para a segurança dos próprios filhos.
“As pessoas às vezes falam: ‘ah, mas você mora lá porque você quer’. Não, é o lugar que eu tenho para morar. Querendo ou não é meu. Se falarem assim pra mim: ‘se limpar lá, você volta?’. Não, eu não volto. Não por mim, mas pelos meus filhos. Mesmo não tendo lugar para ir. Se eu pudesse não estaria lá”, lamenta.
Outro caso da auxiliar de cozinha Leila da Conceição de Souza, 58, o marido, a filha, o genro e os três netos 3, 8 e 10 anos também estão no abrigo. Ela relata que a água misturada com lama chegou até o teto de casa. Os móveis, eletrodomésticos, documentos e tudo o que tinha foi perdido. Nos braços ela só conseguiu salvar o coelho da família.
“É muita tristeza a gente conquistar as coisas e perder assim. Eu estou ter triste por ter perdido, mas é melhor isso do que a minha vida. Agora a gente não tem onde ficar, temos que ficar aqui. As crianças estão chorando, querem ir embora, querem casa, mas não temos onde ficar. Minha filha foi lá agora em casa ver se consegue salvar pelo menos o botijão de gás na lama”, apontou.
Leila que era acostumada a doar alimentos que ganhava de cestas básicas, Leila se vê agora do outro lado, dependendo a solidariedade de outras pessoas para conseguir alimentar a família. “A gente ganha cesta básica da escola e geralmente a gente dá pra quem não tem. Não dá mais. Estamos na expectativa de conseguir um aluguel social. Meu marido é aposentado, mas o dinheiro que ele ganha não dá”, afirma.
“A gente oferta alimentação, o acompanhamento das questões de saúde e as questões sociais. Neste primeiro momento, nós temos que ofertar as respostas emergenciais. Garantir que as pessoas estão em segurança. Ao longo do tempo o município oferta as respostas. Uma possibilidade é o aluguel social, mas temos que acompanhar caso a caso”, explicou o secretário.
O valor do aluguel é de R$ 880 e não há prazo para o abrigo ser desmobilizado.
“Dá uma tristeza porque eu deixava a casa limpinha, arrumadinha. Gostava de sentar, ver televisão e rezar. Gosto de assistir minha missa. Só Deus que sabe da nossa vida. É a fé o que a gente tem”, disse.
Com o auxílio de amigos e parentes, o operador de equipamentos pesados, Leonardo Fernandes, 42, aproveitou o dia de sol para retirar a lama de dentro de casa. Ele afirma que a água chegou a ultrapassar 4 metros de altura, e o desespero tomou conta dele e da mulher. Tudo o que estava no salão de beleza dela, que funciona ao lado da residência, foi perdido.
“Era a ferramenta de trabalho dela, foi o pior prejuízo que a gente teve. O salão dela era lindo, perfeito. A gente perde uma renda, sem falar no prejuízo sentimental dela” lamenta Leonardo.
Da redação do Portal de Notícias Lei & política
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