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A projeção, feita
pela Universidade de Washington (EUA), considera que os casos são muito
superiores aos dados oficiais e devem mais do que dobrar em 15 dias.
ISABELA
PALHARES E JÚLIA BARBON, SÃO PAULO, SP, RIO DE JANEIRO, RJ (FOLHAPRESS) -
Em duas semanas, o Brasil pode chegar a um milhão de pessoas infectadas por dia
com Covid. A projeção, feita pela Universidade de Washington (EUA), considera
que os casos são muito superiores aos dados oficiais e devem mais do que dobrar
em 15 dias.
O país vive um
apagão de números sobre a doença, portanto não se sabe o tamanho da onda de
contaminações impulsionada pela variante ômicron atualmente. Isso porque os
sistemas de notificação do Ministério da Saúde estão instáveis há um mês, após
ataques hackers, e não há uma política ampla de testagem.
A universidade estima que 468 mil pessoas tenham sido infectadas no Brasil
apenas nesta sexta (7), incluindo aquelas que não fizeram exames. A quantidade
é quase nove vezes superior aos testes positivos registrados pelos estados nas
últimas 24 horas (53.419, segundo o consórcio de veículos de imprensa).
Seguindo a
projeção, o país deve chegar a 1 milhão de infectados no dia 23 de janeiro e a
um pico de 1,3 milhão em meados de fevereiro.
A estimativa é dez vezes maior do que o número registrado no auge da doença no
Brasil, em março do ano passado, quando foram quase 100 mil casos positivos por
dia.
Segundo a
epidemiologista Fátima Marinho, integrante da rede de pesquisadores que envia
os dados brasileiros à Universidade de Washington, a projeção é baseada num
cálculo complexo, considerando vários fatores de cada país, e é bastante
confiável a curto prazo.
"Esse aumento
para 1 milhão em duas semanas é plausível, porque o modelo aplica o que já se
sabe da doença nos EUA e na Europa, por exemplo, que têm números muito
apurados. Na Inglaterra o teste é gratuito em qualquer farmácia e vai direto
para o sistema do governo", diz.
De acordo com ela,
é esperado que a doença siga neste ano o mesmo caminho dos últimos dois anos:
um aumento durante o inverno no hemisfério norte, depois uma alta nas
transmissões no Brasil em janeiro e fevereiro, com um pico em março.
"Vamos
repetir, como temos repetido todo ano. Não tem por que o cenário ser diferente
dos outros anos e dos outros países. É impressionante que o governo não faça
nada, sabendo antecipadamente o que vai acontecer", critica a professora
da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais).
O ritmo de
crescimento projetado para as mortes, porém, é muito inferior. Os cálculos
indicam que o país pode chegar a 313 óbitos diários por Covid em duas semanas,
apenas 12% a mais do que as 279 mortes estimadas para esta sexta. Ainda assim,
a projeção é bastante superior ao registro oficial dos estados, que foi de 148
nas últimas 24 horas.
Segundo
especialistas, a menor letalidade da doença está ligada à menor gravidade da
variante ômicron e ao avanço da cobertura vacinal no país. O Brasil tem 78% da
população com ao menos uma dose da vacina, 68% com o primeiro ciclo de
imunização completo e 13,4% com o reforço.
Os dados
registrados pelos estados indicam que, enquanto a média móvel de casos cresceu
477% em relação aos dados de duas semanas atrás, a média de mortes continua
estável, ou seja, não teve variações superiores a 15% nesse período.
"Felizmente,
temos a vacina para evitar uma tragédia como a que vimos no ano passado, em
relação às mortes. Mas, se quisermos o controle da situação e evitar que novos
óbitos ocorram, precisamos saber a quantidade de casos. Com a política atual de
testagem, não teremos esse controle", diz Domingos Alves, professor da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da USP.
Para os
especialistas, exatamente pela falta de testagem no país, os dados oficiais não
devem alcançar os da projeção. No entanto, eles dizem que, mesmo com a
subnotificação, o registro de casos confirmados deve dobrar até a próxima
semana.
"O dado
oficial nunca vai chegar nem perto do número real de infectados porque não
testamos. As informações que teremos nos próximos dias serão apenas daquelas
pessoas que se infectaram e tiveram sintomas mais graves e, por isso, foram
testadas", diz Wallace Casaca, coordenador do Infotracker, projeto da USP
e Unifesp que monitora a pandemia.
Os especialistas
explicam que a subnotificação ocorre principalmente pela falta de testagem em
massa, o que leva, em geral, à contabilização apenas dos sintomáticos moderados
a graves, e a um atraso, ou, muitas vezes, à ausência completa do registro dos
casos.
O sanitarista
Christovam Barcelos, um dos coordenadores da plataforma MonitoraCovid19, da
Fiocruz, também chama a atenção para o enorme gargalo que se formou a partir do
apagão dos sistemas de notificação desde 10 de dezembro. O ministro da Saúde,
Marcelo Queiroga, prometeu normalizar a situação até a próxima semana.
"O apagão não
foi só o ataque às nuvens. Está na origem, atrasando a entrada de notificações
nas unidades de saúde privadas e públicas. Então mesmo que todos os sites
voltem, existe ainda muito dado represado. Portanto, nas próximas semanas,
veremos uma explosão de casos que pode ser falsa também, porque são números de
dezembro que só foram digitados em janeiro", diz.
Ele ressalta que
já se percebia um aumento de infecções desde o início de dezembro, apesar de
isso não ter transparecido nas estatísticas oficiais. Dados de hospitais
particulares, alta na positividade de testes e até um questionário aplicado
pelo Facebook aos usuários indicaram mais pessoas com sintomas naquele momento.
"Isso piorou principalmente com as festas de fim de ano, a partir de 20 de
dezembro. As pessoas esquecem que festa não é só uma noite de Natal ou
Ano-Novo, é uma sequência de eventos e viagens", lembra.
Ainda que os dados oficiais não deem conta de dimensionar o tamanho do surto,
diversas localidades do país já registram pressão nos sistemas de saúde e
voltaram a adotar medidas emergenciais.
O governo do
Ceará, por exemplo, suspendeu cirurgias eletivas e a Prefeitura de São Paulo
voltou a montar tendas para atendimento de pacientes.
Da redação
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