Nas escolas, educadores agem para impedir os casos trabalhando o tema dentro de sala. No caso de situações com agravos psicológicos, há aten...
Nas escolas, educadores agem para impedir os casos trabalhando o tema dentro de sala. No caso de situações com agravos psicológicos, há atendimentos em UBS, ambulatórios e CAPSi.
“A gente tende a querer, nessas situações, dar respostas simples, mas esse é um fenômeno pautado nas relações sociais como um todo. É preciso envolver todo mundo: gestor, professor, quem promove (o bullying), quem sofre e os que assistem” – Leonardo Vieira Nunes, psicólogo escolar.
O bullying é uma forma de violência sistemática a partir de ações físicas ou psicológicas, como intimidação, humilhação e discriminação. Por se tratar de um problema social, é mais recorrente em espaços coletivos, como o ambiente escolar.
“A escola é um espaço de convivência em que vão emergir situações de uma sociedade, como os diversos elementos sociais e culturais que são base para que o bullying aconteça”, afirma o psicólogo escolar e gerente de Serviço Especializado de Apoio à Aprendizagem da Secretaria de Educação, Leonardo Vieira Nunes. De acordo com ele, grande parte das violências se origina de preconceitos ligados a raça, religião, gênero e classe social.
No Distrito Federal, a rede pública de ensino tem ações para prevenir e superar o bullying. A Escola Classe (EC) 47 de Ceilândia, que atende mais de 600 alunos da educação infantil até o 5º ano, promove há mais de dez anos um programa específico para combater esse tipo de violência, batizado de Gentileza Gera Gentileza.
“A gente percebia que as crianças tinham muita dificuldade com os relacionamentos interpessoais. Elas ficavam disputando, como se uma quadra [da região] fosse melhor do que a outra; como se um colega fosse melhor que o outro. Dessa necessidade, nasceu o projeto”, explica a orientadora educacional Luciene Rodrigues Pais de Sousa.
Como funciona
O projeto trabalha os conceitos de gentileza na rotina escolar, no projeto de literatura e no currículo em movimento. Entre as ações já realizadas, estão a análise de provérbios positivos dentro de sala de aula, leilão da gentileza e leitura de livros temáticos.
“A cada ano, nós reformulamos. Este ano, por exemplo, pensamos em retomar a questão do Profeta Gentileza [José Datrino, pregador urbano brasileiro] e também em continuar a enviar mensagens positivas para as crianças e as famílias refletirem no fim de semana. Também vamos manter os livros temáticos dentro do projeto de literatura, além de ações para o corpo docente”, diz a professora Viviane Muniz da Silva, da equipe especializada de Apoio à Aprendizagem da EC 47 de Ceilândia.
Desde o início do programa, a comunidade escolar notou a melhora da relação dos alunos e a maior inclusão das famílias. “Nosso objetivo é que os estudantes tenham a oportunidade de conhecer outros valores na escola, que não são os de casa ou da comunidade. O projeto nada mais é que um exercício diário de cidadania, ética e respeito ao próximo”, completa Luciene.
Mesmo assim, vez ou outra algum caso acontece. Quando ocorre, a escola faz a mediação do conflito com a presença dos familiares. “É um trabalho de formiguinha. Por isso, precisamos exercitar o projeto o tempo todo”, acrescenta a orientadora.
Capacitação e orientação
Todos os profissionais da Secretaria de Educação são qualificados no Eape – Subsecretaria de Formação Continuada com cursos focados na cultura de paz e convivência escolar, que os capacitam para lidar com situações de bullying.
Em 2020, a pasta lançou um compilado prático para orientar os professores com propostas pedagógicas de como atuar na escola com projetos, oficinas e ações que viabilizem a discussão do tema. Ainda neste ano, a secretaria vai divulgar um guia específico para abordar com mais propriedade o bullying.
“A gente tende a querer, nessas situações, dar respostas simples, mas esse é um fenômeno pautado nas relações sociais como um todo. É preciso envolver todo mundo: gestor, professor, quem promove [o bullying], quem sofre e os que assistem”, afirma o psicólogo escolar Leonardo Vieira Nunes.
“O bullying é multicausal. A pessoa que faz sofre com esse processo em casa ou em outras relações. Na escola, ela reproduz o comportamento que é reforçado pelo coletivo. O bullying nunca é sozinho. Por isso precisamos cuidar de todo mundo. É quase inevitável lidar sem envolver a família e a comunidade escolar”, completa.
Acompanhamento psicológico
A violência sistemática pode resultar em agravos psicológicos. Geralmente, quem é vítima tem dificuldade de falar sobre o fato. Primeiramente, por vergonha. Depois, por receio de uma retaliação. Fatores como esses impedem a busca de ajuda necessária. Por isso, é necessário que os familiares e a escola fiquem atentos às mudanças de comportamento.
“As pessoas ao redor vão perceber de maneira indireta, por diferenças comportamentais. Tristeza, isolamento, medo, irritabilidade, nervosismo e até sintomas físicos, como dor de barriga, dor de cabeça e mal-estar geral” – André de Mattos Sales, psiquiatra da infância e adolescência do Centro de Orientação Médico-Psicopedagógica (COMPP) da Secretaria de Saúde.
“As pessoas ao redor vão perceber de maneira indireta, por diferenças comportamentais. Tristeza, isolamento, medo, irritabilidade, nervosismo e até sintomas físicos, como dor de barriga, dor de cabeça e mal-estar geral”, explica o psiquiatra da infância e adolescência do Centro de Orientação Médico-Psicopedagógica (COMPP) da Secretaria de Saúde, André de Mattos Sales.
Casos de sofrimento psíquico gerados por bullying devem ser encaminhados aos serviços de saúde mental. A orientação é buscar a Unidade Básica de Saúde (UBS), que é a primeira instância da rede. “As equipes de saúde da família são compostas por vários profissionais que poderão fazer o acolhimento da situação e encaminhar para outros níveis de atenção, caso seja necessário”, explica Nunes.
Nos outros níveis de atenção, o atendimento pode ser feito nos ambulatórios de saúde mental – como o COMPP, que atende crianças de 0 a 12 anos, e o Adolescentro, voltado para jovens de 12 a 18 anos – ou nos Centros de Atenção Psicossocial Infantil (CAPSi) do Recanto das Emas, Sobradinho e Taguatinga, voltados para pacientes de 0 a 18 anos em situações de maior gravidade.
O psicólogo alerta que a atenção em relação ao bullying não deve ser apenas na vítima. É importante identificar e trabalhar as crianças com padrões de agressores. “Normalmente são crianças que passam por situação de violência, vivenciam várias vulnerabilidades e adotam isso como forma de lidar com questões pessoais. Não podemos só culpar, mas entender por que ele tem esse tipo de ação”, afirma.
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Da redação com informações da Agência Brasília
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