Quando uma pessoa procura uma unidade de saúde, seja ela pública ou privada, tudo que ela deseja é ser cuidada. Ali, ela se entrega de form...
Quando uma pessoa procura uma unidade de saúde, seja ela pública ou privada, tudo que ela deseja é ser cuidada. Ali, ela se entrega de forma íntima. Revela seus segredos. Torna-se vulnerável. O que ela espera?
Segurança. E isso independe de ela ser uma
celebridade, um político, um condenado pela justiça ou uma dona de casa. O
tratamento deve ser igualitário.
A segurança no ambiente de saúde deve ser expressa
em todos os processos, desde o acolhimento até a alta. É uma
jornada íntima que precisa ter os dados protegidos, as informações
cuidadosamente guardadas e a passagem da pessoa pela instituição de saúde
um momento pessoal, de interesse exclusivo dela.
Na prática, uma instituição de saúde é um local
para a pessoa se sentir cuidada, protegida e segura, fato este que tem
ficado cada vez mais comprometido pela necessidade acelerada de dar
furos, de mostrar que sabe o que está acontecendo. É um flash ali, uma
revelação acolá. E, de repente, seu tratamento fica estampado nas redes
sociais e, quando figura pública, nas páginas de jornais. Em todos,
o embasamento está na liberdade de expressão. É preciso lembrar que,
segundo o Supremo Tribunal de Justiça, a privacidade prepondera em
relação à liberdade de informação.
Entender para respeitar
Toda instituição de saúde é um ambiente
confidencial, sigiloso e regulado. Os profissionais que nele atuam possuem
normas diversas que, aliadas à legislação brasileira vigente, promovem
o respeito à intimidade. Exemplo disso é a própria Constituição
Federal, que no inciso X do artigo 5º declara serem
"invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente
de sua violação”.
Todo brasileiro, independente do que faça, tem
resguardado o sigilo do atendimento prestado em saúde e o direito à
confidencialidade, de modo que todo profissional que atua na área da saúde
jamais revele um fato que tenha conhecimento em virtude do exercício da
profissão.
Infelizmente, a atual era da comoção popular por
meio da informação jogada, sem checagem dos fatos, faz com que
profissionais de saúde e de áreas como segurança cada vez mais usem os
celulares como arma em prol de uma imagem de alguém “ilustre”. Resultado,
sempre vemos na imprensa as Letícias, as Marílias, as Klaras, os Cristianos
e tantos outros, que têm sua intimidade violada pelo desejo de fofocar
sobre o que acontece na vida do outro.
Proteger é cuidar
Acolher, cuidar e humanizar a saúde passam pela
garantia dos direitos do pacientes e, nesse processo, a proteção do
vulnerável.
Confiar na instituição de saúde para a qual o
paciente se entrega passa por apoiar no silêncio, por garantir a segurança
aos envolvidos, de deixar sua história ali, a sua disposição, e
jamais para outro.
Por mais que imprensa e influenciadores tenham
sede de compartilhar uma história, cabe ao profissional de saúde proteger o
paciente. E ele pode ser quem for. Para isso, existem as resoluções do
Conselho Federal de Medicina, os códigos de ética das diversas áreas
da assistência, a Constituição Federal e a LGPD – Lei Geral de
Proteção de Dados.
Estado de saúde é informação privada e só deve ser
revelada com autorização do paciente ou, no caso da
incapacidade dele, do familiar.
Como proteger?
Para transformar a unidade de saúde em um ambiente
seguro, é preciso:
Criar normas, políticas e protocolos em
consonância com a legislação vigente, garantindo o respeito à intimidade;
Educar os profissionais por meio de campanhas de
sensibilização, treinamentos e capacitações;
Criar e implementar o sistema de gerenciamento de
informações;
Adotar mecanismos de monitoramento e controle;
Transformar a segurança da informação como
objetivo estratégico da organização de saúde.
Quando instituições de saúde e profissionais
tomarem consciência de que cuidar de vidas passa por proteger a intimidade, a
experiência do paciente será muito melhor.
*Ana Negreiros é especialista em Comunicação em
Crises nas organizações de saúde públicas e privadas, atuando em Gestão de
Imagem e Reputação, Narrativas Corporativas, Crises e Riscos. É
diretora de Comunicação e Relações Institucionais na WeDo.
Por Ana Negreiros
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