É final de tarde do dia 10 de dezembro de 2022, uma ambulância de Aragarças, município do extremo oeste de Goiás, dá entrada no Hospital de ...
É final de tarde do dia 10 de dezembro de 2022, uma ambulância de Aragarças, município do extremo oeste de Goiás, dá entrada no Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), dentro dela está o operador de máquinas João Paulo Bento da Silva, de 37 anos, com 36% do corpo queimado em um acidente.
João gosta de viver a vida e estar em lugares diferentes, ao ver-se em um leito de UTI e sentindo fortes dores, desiste de viver e pede insistentemente que os profissionais o deixem morrer. “Eu vivia pelo mundão, feliz e sossegado. Quando eu descobri que eu estava com o corpo queimado me deu um desespero imenso. Eu sentia dores e não tinha jeito de fazer nada, eu sentia que havia acabado minha vida”, diz.
No Hugol, diariamente centenas de pessoas que sofreram acidentes automotivos, queimaduras ou violência física grave, procuram a unidade de saúde para atendimento, visto que o local é o maior hospital público em urgência e emergência do estado de Goiás.
Segundo pesquisas da Pfizer, experiências ameaçadoras e risco de morte, podem levar ao surgimento de vários transtornos psicológicos, entre eles o estresse pós-traumático. De acordo com o estudo, além dos pacientes que sofreram graves traumas físicos ou possuem diagnóstico de doença que ameace a vida, os seus familiares também podem desenvolver o transtorno. Para além do atendimento do trauma físico, é importante dar uma atenção especial às condições psicológicas dos pacientes, para que eles possam aceitar enfrentar o tratamento da maneira mais favorável possível.
Ana Thaísa é psicóloga do pronto atendimento do Hugol e segundo ela os pacientes e familiares que chegam à unidade precisam ser acompanhados pelos psicólogos e pela equipe de assistência social. “São inúmeras as situações de urgência e emergência que ocorrem diariamente. Esses pacientes, assim como qualquer pessoa que passe por um trauma severo, precisam ser acolhidos e seus familiares também. Existem casos, como por exemplo os de amputação, onde é importante a avaliação e a intervenção do profissional de psicologia, junto à equipe médica, para que haja a compreensão do paciente quanto à sua situação. Muitas vezes, precisamos fazer com que este entenda que tal procedimento é importante para sua melhora. O suporte psicológico precisa ocorrer desde a entrada na unidade, até a alta hospitalar, assim diminuímos o risco deste paciente, ou familiar, adquirir transtorno de estresse pós-traumático”, diz a profissional.
Katiane Chagas Pessoa é psicóloga do Centro de Referência de Queimados do Hugol e diariamente atende pessoas que chegam com até 100% do corpo queimado. Segundo ela, o paciente precisa estar bem psicologicamente para evoluir no tratamento. “A queimadura dói muito fisicamente e as sequelas ficam visíveis para toda vida. São situações podem ocasionar limitações, podendo até fazer com que a pessoa afetada perca sua autonomia. Muitas vezes os pacientes não se reconhecem no espelho, o que os deixam desnorteados. Isso impacta no relacionamento com a família, os amigos, a vida profissional e a vida social de forma geral. E quando o paciente está com seu lado psicológico abalado, é muito difícil seguir o tratamento. Assim, para todos que passam por situações similares, é necessária uma avaliação da complexidade emocional, onde é relatado tudo o que o paciente tem vivido naquele período. Essa avaliação é realizada todos os dias e notamos que, quando há interação familiar, que passa pelo envolvimento e o apoio da família, a evolução do paciente é notória”, afirma.
Graças ao incentivo das psicólogas, hoje João Paulo vê a vida com outros olhos, mesmo tendo que amputar um dos braços. “Essa relação com as psicólogas salvou minha vida. Se eu saísse do Hugol hoje eu gostaria de entrar em um ônibus e passear pela cidade, descer em um terminal e continuar esse meu passeio. Hoje eu me sinto vivo novamente!”, afirma. Ainda não há uma previsão de alta hospitalar para o paciente, mas ele segue acompanhado pelas psicólogas, que diariamente visita-o.
Janeiro Branco
O Janeiro Branco é um movimento social dedicado à construção de uma cultura da Saúde Mental na humanidade. Segundo os pensadores do movimento, foi escolhido o primeiro mês do ano, por essa época inspirar as pessoas a fazerem reflexões acerca das suas vidas, das suas relações, dos sentidos que possuem, dos passados que viveram e dos objetivos que desejam alcançar no ano que se inicia.
Hugol
O Hospital de Urgências Governador Otávio Lage de Siqueira (Hugol), unidade da Secretaria de Estado da Saúde de Goiás (SES-GO), prioriza o bem-estar físico dos pacientes que por diversas ocasiões necessitam de um atendimento de urgência. Ao garantir a excelência no atendimento, o Hugol possui uma equipe com 31 psicólogos e 34 assistentes sociais, que diuturnamente estão à disposição para garantir a integridade mental dos pacientes e familiares.
Legenda da foto: O paciente João Paulo Bento da Silva conversa com psicóloga do Hugol
Da redação com a fonte do Juliano P. Fagundes, do HUGOL
Nenhum comentário