O Felipe Silva, da Gana: o nosso olhar é que o conteúdo precisa se conectar com as pessoas (Agência Gana/Divulgação) Por: Marcos Bonfim Re...
O Felipe Silva, da Gana: o nosso olhar é que o conteúdo precisa se conectar com as pessoas (Agência Gana/Divulgação)
Por: Marcos Bonfim Reporter
A Gana, agência responsável pela criação do Mano a Mano, podcast do Mano Brown, registrou um crescimento de 156% em 2022.
O perfil de Felipe Silva não é fácil de ser encontrado em agências de publicidade - principalmente em cargos de liderança e como sócio-fundador de uma agência. Primeira pessoa da família a se formar na faculdade, o publicitário da comunidade Morro de Santo Inácio, em Niterói, é sócio-fundador da Gana, uma agência de publicidade com um time 100% negro.
Em 2022, a Gana registrou uma receita operacional líquida de R$ 10 milhões, crescimento de 156% em relação ao ano anterior. A evolução foi atestada no ranking EXAME Negócios em Expansão 2023 e o resultado posicionou a agência na 31ª posição na categoria entre R$ 5 a R$ 30 milhões.
A criação da agência, fundada por Silva e Ary Nogueira em São Paulo no fim de 2020, veio depois de mais de 15 anos no mercado publicitário como criativo e passagens por algumas das principais agências país como
- TBWA (hoje LewLara/TBWA)
- Africa
- Y&R (atual VMLY&R)
A trajetória rendeu prêmios em alguns dos principais prêmios da publicidade mundial, como o Cannes Lions, conhecido como o Oscar da publicidade, o ibero-americano El Ojo e o Effie Awards, e colocou como um dos grandes publicitários brasileiros da atualidade.
Como foi a criação da agência Gana
Os endossos da indústria ao talento do profissional sempre esbarravam em uma questão fundamental para Silva, a falta de representatividade do mercado. “A minha carreira sempre foi muito diferente da galera desde que eu entrei no mercado. Eu era de uma comunidade em Niterói, do morro, e a única pessoa preta na criação em todas as agências em que trabalhei”, afirma.
À medida que começou a ser conhecido na indústria, estudantes e profissionais periféricos e negros entravam em contato para apresentar o portfólio, as pastas com trabalhos e produções criativas. Muitos com histórias e percalços parecidos aos seus.
Ele entrou mais velho na faculdade, aos 22 anos, impulsionado por um desejo da mãe que queria ver o filho na universidade. Como gostava de ler, optou por comunicação e pelo período vespertino, mais barato e que cabia no bolso. “Escolhi vendo o Guia do Estudante, entrei muito por acaso e não tenho nenhuma história romântica”, afirma.
Como o horário dificultava manter o trabalho de faxineiro em um hospital, em Niterói, recorreu a “bicos” para se manter. Roadie de bandas, bandeirinha em corridas de motovelocidade e office boy entraram na lista.
Da inquietude, compartilhada com o amigo Ary Nogueira, diretor de arte em agências como AlmapBBDO, Artplan e DM9DBB (atual DM9), brotaram as ideias que desaguaram na Gana. O nome, ao mesmo tempo, estabelece uma conexão com a África e expressa um desejo agudo e intenso. No caso, de transformação.
“Nós conversávamos muito como era difícil mostrar, sem estar na cadeira de decisão, que existe muita potência criativa do povo preto e periférico. Essa galera criou o samba, funk, os desfiles de carnaval”, diz. “Mas que se não estivéssemos na cadeira de decisão, isso ia ser parado dentro das agências de alguma forma. Foi por meio dessa motivação que começou a nascer essa ideia”.
Quais são as ideias e propostas da agência
As ideias para o lançamento de uma agência esbarravam nos custos de manter uma estrutura física. Na pandemia de Covid-19, com o trabalho remoto ganhando força por força da necessidade, os dois perceberam que poderiam colocar o negócio de pé. No fim de 2020, eles participaram de uma concorrência de Kuat com apelo regional, ganharam e a agência nasceu com um modelo de trabalho remoto.
Na proposta, explorar a potência criativa brasileira e reunir profissionais de várias regionais do país, saindo do eixo Rio-São Paulo. “Queríamos trazer esses olhares de fora daqui”, diz. “Este ano, por exemplo, nós fizemos campanhas de São João em Campina Grande e Caruaru e tínhamos pessoas de lá, pessoas que conhecem o lugar e sabem como funciona. Você acaba tendo um olhar muito mais rico”.
Além disso, um conceito de explorar outras formas de fazer publicidade, a partir da criação de projetos. Foi na agência que nasceu o Mano a Mano, o podcast de Mano Brown. A Gana já tinha feito projetos com a Boogie Naipe, produtora fundada e comandada por Eliane Dias, CEO e esposa do rapper. Com o aval da executiva, levou a iniciativa para o Spotify, que comprou a ideia. O trabalho inclui ainda a produtora de som Mugshot.
Nessa linha, a Gana já desenvolveu talk show com a presença da Ludmilla e exposição fotográfica sobre mulheres negras empreendedoras para a Meta e websérie com o rapper Djonga e a sua avó para Kuat. “O nosso olhar é que o conteúdo precisa se conectar com as pessoas”, diz.
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