Foto: Eurico Eduardo/Agência CLDF Participantes da sessão se emocionaram ao lembrar a trajetória da enfermeira forense Pollyanna Pereira de ...
Foto: Eurico Eduardo/Agência CLDF
Participantes da sessão se emocionaram ao lembrar a trajetória da enfermeira forense Pollyanna Pereira de Moura, vítima de feminicídio por seu ex-companheiro no ano de 2020
O que seria somente uma homenagem aos profissionais da enfermagem forense do Distrito Federal acabou se transformando em um manifesto pelo fim da violência contra as mulheres na manhã desta sexta-feira (1), em sessão solene da Câmara Legislativa. O autor da iniciativa, deputado Jorge Vianna (PSD), ressaltou o caráter singular da solenidade. “Hoje não é um dia qualquer, pois lutamos muito para criar o dia da enfermagem forense. Esse projeto inclusive foi vetado e nós derrubamos o veto. Mas tudo mudou quando uma colega morreu”, explicou.
A colega a que Jorge Vianna se referiu é Pollyanna Pereira de Moura, enfermeira forense vítima de feminicídio por seu ex-companheiro no ano de 2020. “Era uma mulher cheia de vida, cheia de coragem. Deixou sua família aqui e foi para Manaus ajudar os colegas no enfrentamento da pandemia”, destacou o deputado.
O rosto de Pollyanna estava estampado nas camisas de vários participantes da sessão solene, que fizeram questão de render homenagem àquela profissional tão querida por seus pares.
Ao longo da solenidade, outros casos de violência contra a mulher foram relatados, levando muitos dos oradores a se emocionarem. “Eu vi uma colega ser assassinada. A dor é irreparável. Cabe aos homens escutar o grito de socorro das mulheres e não ficarmos calados. Precisamos agir”, disse Newton Batista, do Sindicato de Auxiliares e Técnicos em Enfermagem (Sindate).
A atuação dos enfermeiros forenses no acolhimento das mulheres vítimas de violência foi destacada na sessão solene. “Somos nós da enfermagem que temos o primeiro contato com as vítimas de agressão. Até chegar o perito, nós já vimos as roupas, as marcas, a forma como a pessoa chegou”, afirmou Jorge Vianna, que é enfermeiro.
A deputada Dayse Amarilio (PSB) também ressaltou o papel dos enfermeiros forenses na luta contra as agressões sofridas pelas mulheres e defendeu um projeto de lei de sua autoria que trata do tema.
“Na hora da acolhida, o profissional da enfermagem forense faz toda a diferença. Por isso peço a sensibilidade dos deputados para derrubarmos o veto ao meu projeto de lei que determina local específico nos hospitais para atendimento às mulheres vítimas de violência. Essa vítima chega ao hospital toda arrebentada e tem muita dificuldade de fazer denúncia ou procurar ajuda. Ela fica esperando atendimento toda arrebentada, junto com os demais pacientes. O meu projeto determina que essa mulher seja acolhida pelo enfermeiro forense”, disse a deputada.
Ativista da Comissão Nacional da Enfermagem Forense, Adriano Araújo lembrou que “a enfermagem forense é uma especialidade nova, mas que já está atuando em todo o país”. Para ele, trata-se de um trabalho que exige conhecimentos específicos que ainda não são ofertados na formação dos profissionais.
Elilssandro de Noronha, do Conselho Regional de Enfermagem, observou que muitas enfermeiras forenses são elas mesmas vítimas de violência e têm dificuldade para denunciar. “No DF, 87% da enfermagem é formada por mulheres e várias delas sofrem agressões no próprio local de trabalho. Muitas vezes as mulheres não denunciam com medo de perder o emprego. Uma colega recentemente levou uma denúncia de abuso sexual à direção de seu hospital, mas tentaram abafar o caso. A profissional não quis ir à polícia com medo de ser demitida. Muitas vezes as enfermeiras são demitidas quando fazem denúncias”, relatou.
A delegada de polícia Karen Tatiane Langkammer, da delegacia de atendimento à mulher de Ceilândia, também ressaltou a importância da enfermagem forense no combate à violência contra a mulher. “Muitas vezes a mulher chega na delegacia quando já não aguenta mais e está com medo de morrer, mas para nós é apenas a primeira notícia de violência, pois não temos um histórico. Por isso é tão importante a atuação dos enfermeiros forenses. Se o enfermeiro coletou dados anteriores eu terei um histórico para requerer o encarceramento do agressor”, explicou a policial.
Para a defensora pública Keity Satiko Freire, é fundamental que as vítimas procurem ajuda. “A defensoria faz todo tipo de atendimento a mulheres em situação de vulnerabilidade. São mulheres que precisam muitas vezes de casas de apoio”, afirmou.
Da redação com a fonte da Agência CLDF
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