O mês de janeiro é dedicado à conscientização e combate à uma doença que ainda enfrenta desafios como o preconceito e o diagnóstico tardio,...
O mês de janeiro é dedicado à conscientização e combate à uma doença que ainda enfrenta desafios como o preconceito e o diagnóstico tardio, a hanseníase, antigamente conhecida como lepra. Neste contexto, a Campanha do Janeiro Roxo promovida pelo Ministério da Saúde busca informar à população sobre os sinais e sintomas da doença, a importância do tratamento precoce e o papel crucial da saúde pública na erradicação dessa enfermidade que afeta milhares de mineiros todos os anos. De acordo com o Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), em 2024, houve o registro de 1.147 casos da enfermidade em Minas Gerias.
O diagnóstico pode ser realizado de três formas distintas. Sendo que a primeira requer que o paciente realize um exame clínico passando por uma avaliação das lesões da pele e testes de sensibilidade. Outra forma é avaliação neurológica, a qual o toque dos nervos pode identificar alterações dor ou espessamentos e, caso necessário, são feitos exames laboratoriais, como o qPCR em tempo real, exame que é realizado na Fundação Ezequiel Dias (Funed) desde 2024 e se baseia na biópsia da pele.
Após análise e confirmação da hanseníase, inicia-se o tratamento medicamentoso por meio da Poliquimioterapia Única (PQT-U), que se baseia na associação de três antimicrobianos: Rifampicina, Dapsona e Clofazimina. De acordo com a SES-MG, a duração desse procedimento pode variar de seis à doze meses e, com o devido tratamento, a hanseníase é curada, evitando sequelas e problemas no futuro.
De acordo com a servidora e farmacêutica do Serviço de Farmacovigilância e Estudos Clínicos (SFEC), Paula Drummond, a talidomida é produzida pela Funed desde 1970, sendo a única fabricante do medicamento no Brasil e distribuindo exclusivamente ao SUS. “O papel do laboratório oficial se faz essencial no atendimento às demandas do SUS no que se refere às doenças como a hanseníase, que são consideradas doenças negligenciadas. Os laboratórios privados não têm interesse na fabricação de medicamentos para esse tipo de doenças”, afirma Paula.
Em 2024, foram produzidas 5,1 milhões de comprimidos de Talidomida encaminhados para o Ministério da Saúde. A servidora destaca a importância da produção desse medicamento, especialmente diante do estigma associado à hanseníase. “A produção de Talidomida pela Funed é fundamental para garantir assistência à saúde integral dos pacientes que sofrem um estigma muito grande com a doença. Além disso, o próprio medicamento é estigmatizado, dado seu histórico trágico cujo início do uso foi marcado pela ocorrência de diversos casos de malformação fetal na década de 1960, o que pode tornar o tratamento ainda mais complicado”, completa Paula. No entanto, a legislação brasileira prevê de forma bastante rigorosa o controle do uso da talidomida, para que não ocorram casos desse tipo. “As pacientes em idade fértil, por exemplo, devem evitar a gravidez todos os meses antes de terem acesso ao medicamento nas unidades dispensadoras e ainda fazer o uso de dois métodos contraceptivos, sendo um deles de barreira (como a camisinha)”, explica.
Para controle de eventos adversos são adotados o monitoramento dos sintomas dos pacientes e o manejo de dose que podem prevenir o agravamento do quadro, além de ser necessário o uso de medicamentos preventivos de trombose em alguns casos. “Seguindo esse protocolo, os riscos e eventuais prejuízos em decorrência do uso do medicamento são compensados em termos da qualidade de vida do paciente”, ressalta.
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