Os dois artistas plásticos estão enraizados na história de Brasília por meio de obras que compõem o cenário da cidade. Que tal aproveitar as...
Os dois artistas plásticos estão enraizados na história de Brasília por meio de obras que compõem o cenário da cidade. Que tal aproveitar as férias em um passeio pelos trabalhos da dupla?
Quando Lucio Costa e Oscar Niemeyer projetaram Brasília, a proposta era criar uma cidade modernista, que fugisse do tradicionalismo da época e experimentasse novos conceitos. Uma das inovações veio da convergência entre arquitetura e arte em meio ao projeto urbanístico da cidade. Isso tornou a capital um museu a céu aberto, onde o branco do concreto se mistura ao verde do paisagismo de Burle Marx e as formas geométricas e abstratas de Athos Bulcão – que completaria 106 anos nesta terça-feira (2).
Muitas dessas obras estão ao alcance do brasiliense e do turista que visita o Distrito Federal. Algumas até foram retomadas pelo Governo do Distrito Federal (GDF) após anos engavetadas, como os jardins de Burle Marx no Complexo da Torre de TV e no Parque da Cidade Sarah Kubitschek.
“Eles foram convidados para a atuação na construção de Brasília exatamente porque oferecem um contraponto a dureza e a brancura da arquitetura modernista da época. Ambos trouxeram cor para os projetos iniciais e, apesar de já serem sumidades em seus campos na época, foi aqui que realizaram suas obras-primas”, analisa o subsecretário do Patrimônio Cultural da Secretaria de Cultura e Economia Criativa (Secec), Felipe Ramón.
Aproveitando a chegada das férias escolares, a Agência Brasília propõe no especial Explore o Quadrado um olhar diferenciado sobre os pontos turísticos e uma gama de opções de atividades para aproveitar o período. Entre as sugestões, um roteiro desenvolvido pela guia turística Samara Augusto, que atua nos Centros de Atendimento ao Turista (CATs) da Secretaria de Turismo do Distrito Federal (Setur-DF), pelo legado artístico de dois artistas plásticos que se tornaram marcas na capital: Athos Bulcão e Burle Marx.
O passeio começa no Aeroporto Internacional de Brasília, onde estão dois painéis de Athos Bulcão em azulejo, que podem ser conferidos pelos viajantes nas salas de espera do embarque nacional e do internacional, e mais um em metal no terraço do aeroshopping – esse aberto para o público.
Depois, o roteiro segue para a quadra modelo, a 308 Sul, que foi construída seguindo o plano urbanístico de Unidade de Vizinhança assinado por Lucio Costa. O endereço marca uma série de espaços na capital em que os artistas aparecem juntos revisitando o elo antigo. Antes de integrarem o grupo do projeto de Brasília, Athos Bulcão e Roberto Burle Marx fizeram parte do mesmo movimento artístico no Rio de Janeiro, onde tiveram contato com o modernismo e o abstracionismo geométrico.
Na 308 Sul, Burle Marx é o autor do projeto do Laguinho de Carpas em frente ao Bloco F. Trata-se de um jardim de plantas aquáticas dividido em dois tanques com carpas coloridas e uma miniponte que liga o espaço ao bloco e a uma praça de convivência. “A ideia era criar um ponto de lazer e também para auxiliar na umidade do ar. Como aqui em Brasília é muito seco, a cidade tem vários espelhos d’água que têm a função visual e estética, mas também física, para a sobrevivência do brasiliense”, destaca a guia turística Samara Augusto.
Na mesma quadra, Athos Bulcão aparece em dois locais diferentes. A principal delas fica na parede externa da Igrejinha Nossa Senhora de Fátima, com a única criação figurativa do artista em azulejo, composta por pombas e estrelas da natividade em meio ao fundo azul.
“É a única obra de Athos em azulejo que conseguimos identificar o que está desenhado ali. Temos as pombas viradas para baixo, que representam o Espírito Santo descendo e chegando na Igrejinha, e temos as estrelas de natividade usadas para orientar os astrólogos até Jerusalém conforme o Evangelho de Mateus”, revela Samara. O outro trabalho é a fachada do Jardim de Infância 308 Sul.
Área central
Na Esplanada dos Ministérios, há tanto espaços de convergência, como pontos mais marcados pela presença apenas de Athos Bulcão, que conta com cerca de 500 painéis tombados como Patrimônio Cultural por todo o Distrito Federal. A primeira parada, a Catedral Metropolitana de Brasília, abriga uma das obras mais raras do carioca. Além do painel de azulejo no Batistério, logo na entrada da igreja um painel de mármore está revestido por um conjunto de dez pinturas em tinta acrílica com episódios da vida de Maria e de Jesus Cristo. “Poucos sabem, mas essa é uma obra rara de Athos Bulcão em meio a dos monumentos mais icônicos de Brasília”, acrescenta a guia turística.
Moradora de Fortaleza, a médica Elaine Barbosa, 38 anos, está na cidade para participar de um congresso de endocrinologia pediátrica, mas no tempo livre foi fazer turismo na Catedral e se encantou com as obras de Athos que compõem o espaço. “Desde a faculdade eu venho a Brasília para participar de congressos. Acho tudo maravilhoso. É uma cidade limpa, planejada e que tem uma estética internacional, com obras de arte dividindo espaço com a arquitetura de Niemeyer”, afirma.
Seguindo pela Esplanada estão mais localidades em que a dupla de artistas aparece: os palácios do Itamaraty e da Justiça, o Teatro Nacional Claudio Santoro – atualmente fechado para visitação – e o Congresso Nacional. Os palácios têm os jardins aquáticos idealizados por Burle Marx criando uma atmosfera tropical e contam, na parte interna, com obras de Athos.
No Ministério das Relações Exteriores, são muitos os trabalhos do artista plástico, como o painel de mármore branco em relevo no térreo. Já na sede do Ministério da Justiça, está o grandioso painel metálico com 2.090 lâminas de aço inoxidável importadas da Alemanha.
No Teatro Nacional, Athos Bulcão fez os painéis em relevo nas empenas da construção, além das placas retangulares verticais de mármore e dos painéis de azulejos amarelo e branco, no foyer, e amarelo e laranja no Espaço Dercy Gonçalves. Burle Marx idealizou o projeto paisagístico do foyer.
No Congresso Nacional, os painéis de Athos Bulcão dividem espaço com os jardins de Burle Marx, também responsável por telas e obras de tapeçaria expostas no local.
Na Praça dos Três Poderes, Athos Bulcão pode ser encontrado, ainda, no Panteão da Pátria e da Liberdade. A obra encontra-se na parede que separa o ambiente dos espaços de exposições. É um grande painel vermelho composto por 24 formas geométricas dispostas em vários sentidos, com um triângulo dentro em referência a bandeira de Minas Gerais, estado natal de Tancredo Neves, que é a grande figura homenageada pelo espaço.
Convergência artística
Outra localidade em que os artistas compartilham o espaço é o Setor Militar Urbano. Lá fica um dos maiores jardins de Burle Marx em Brasília. Batizado de Praça dos Cristais, o jardim tem um formato de um triângulo gigantesco, onde há vários minijardins com plantas nativas e aquáticas, além de um exemplar do Pau Brasil.
“Essa é uma das maiores áreas de Burle Marx. Como as outras, tem a função da umidade com muita água e plantas aquáticas”
Samara Augusto, gerente de Núcleo do CAT
“Essa é uma das maiores áreas de Burle Marx. Como as outras, tem a função da umidade com muita água e plantas aquáticas. Nesse jardim, ele ainda juntou a questão paisagística com o estudo geológico. Os cristais que são de concreto são uma representação da riqueza mineral do Planalto Central”, acrescenta a gerente de núcleo do CAT, Samara Augusto.
Da própria praça também é possível ver um dos maiores painéis de Athos Bulcão em Brasília. Localizado no Quartel General do Exército, trata-se de um painel na cor azul com estampas em fundo branco na cobertura do prédio.
Estar em meio às obras dos artistas é um dos benefícios de quem vive na cidade. “É muito bom. Brasília tem várias obras monumentais para a cultura mundial. É um privilégio termos isso na cidade”, defende o médico Daniel Salomão, 43 anos, que, ao lado da família e de um grupo de amigos, fez um piquenique na Praça dos Cristais, aproveitando o paisagismo de Burle Marx.
“Passava todos os dias por aqui, mas nunca tinha vindo. Até que meus colegas fizeram a proposta de fazermos um piquenique aqui. E adoramos. É um espaço muito bom para as crianças, além de ser a cara de Brasília”, complementa.
Polígonos
O Parque da Cidade Sarah Kubitschek é outro exemplo de localidade em que as obras dos artistas foram projetadas conjuntamente. Os painéis do azulejista são visíveis das pistas internas 16 paradas de descanso. Já o projeto do paisagista será retomado após muitos anos. Com a retirada dos pinheiros, a área do bosque retomará o projeto original com algumas adaptações. Serão 29 polígonos de plantio arbóreo em três bosques com plantio de três mil mudas.
No ano passado, outro projeto de Burle Marx foi retirado do papel. Em setembro, o Governo do Distrito Federal (GDF) inaugurou o Jardim Burle Marx, no Complexo da Torre de TV, entre a Rodoviária do Plano Piloto e a Torre de TV. A obra foi idealizada em 1975, mas realizada apenas 40 anos depois. O espaço é composto por dois grandes espelhos d’água, pontes, cascatas, caminhos arborizados e passeios. O Complexo da Torre de TV também tem Athos Bulcão: um painel localizado no mezanino da torre.
Como chegar
No site ou pelo aplicativo DF no Ponto é possível ver quais as linhas do transporte público passam próximas aos pontos turísticos – tanto para ir direto ou por integração entre ônibus e metrô. A integração no transporte público por meio do Cartão Mobilidade permite até três acessos no período de três horas, em um mesmo sentido, podendo ser utilizado em ônibus, BRT ou metrô.
Já para quem curte um passeio de bike, há ciclovias que passam próximas dos pontos turísticos. Por meio deste guia, é possível checar as rotas existentes – lembrando que alguns parques possuem ciclovias internas ou ciclorotas.
Da redação do Portal de Notícias
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